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Saúde

Bebê morre na barriga da mãe por suposta negligência em hospital de Faro

Diretor da unidade hospitalar nega denúncia e esclarece que a mãe deu entrada com sangramento

Fachada do Hospital Municipal Dr. Dionísio de Oliveira Bentes (Foto: Arquivo/Diário Manauara)

Faro (PA) – Mais um caso de suspeita de negligência médica gera dor e revolta em Faro, no oeste do Pará. Uma bebê morreu na barriga da mãe por volta das 5h15 de quinta-feira (13), no Hospital Municipal Dr. Dionísio de Oliveira Bentes, localizado na avenida Independência, no bairro Morumbi.

No fato mais recente, apurado pelo Diário Manauara, uma jovem de 18 anos, estava no 6º mês de gestação e realizou todo o pré-natal em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município, onde exames comprovaram infecção urinária na gravidez.

Devido a patologia que atinge com frequência as mulheres, com incidência maior nas grávidas, a jovem seguiu com o tratamento em casa para ter um parto normal. Segundo estudos, a doença é a segunda causa de mortalidade prematura de fetos com até três meses.

Após se queixar de dores fortes, a jovem buscou atendimento médico no hospital, onde recebeu medicação para amenizar as contrações. Mas segundo relatos, ela acabou perdendo a criança por conta de demora na assistência.

Na declaração de óbito, o hospital informou que a bebê já estava sem vida (natimorto). Entretanto, pessoas próximas à jovem contestam o documento e denunciam negligência no atendimento médico, além do tratamento habitual de profissionais com má disposição e péssimo humor.

“A jovem chegou com contrações no hospital. Disseram que nem medicação tinha na hora. Um absurdo! Não é a primeira vez que é registrado morte nesse hospital por falta de medicamentos e médicos, sem contar que há 24 profissionais sem experiência e com mau humor constante. O hospital não tem Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e realizações de exames são raros. Às vezes, falta gases para curativo, insumo básico para o tratamento de machucado”, contou indignado um morador ao Diário Manauara, que preferiu não se identificar.

O Diário Manauara apurou que depois de examinada, a jovem seguiu internada sob medicações e acompanhada de parentes, com estado de saúde estável. A reportagem tentou falar com familiares da paciente, mas não obteve êxito.

O corpo da bebê foi velado e sepultado nesta terça-feira (13), no cemitério São João Batista. Neste momento de dor, o Diário Manauara se solidariza com a família e amigos dos pais da criança.

Hospital rebate versão

Ao Diário Manauara, o diretor do Hospital Municipal Dr. Dionísio de Oliveira Bentes, Rian de Jesus Melo Sarmento, classificou o fato como uma fatalidade e desmentiu as denúncias do modo “politicagem”. Segundo ele, a paciente chegou com quadro de saúde crítico, e que relatório não aponta demora no atendimento da paciente.

“Isso que aconteceu foi uma fatalidade, mas a família sempre com a dor, a gente até procura entender, leva pra esse lado. Também não é verdade que fato dessa natureza acontece continuamente. Pode acontecer aqui, Nhamundá, Terra Santa, em qualquer lugar, até em cidade grande. A jovem chegou à unidade com sangramento, e a partir do momento que chega com um quadro daquele, como o quadro dela de pré-natal, uma gravidez de risco, a gente procura solucionar esses problemas. Chega lá, perdendo o feto, a gente fica sem poder ajudar por falta de recursos. O município não oferece recursos, esse suporte todo na verdade. A gente procurou fazer o melhor, a unidade deu o que tinha de dar de assistência e está prestando ajuda para a mãe”, declarou.

Realidade do município

Questionado pela reportagem sobre a falta de recursos no município de Faro, o diretor Rian de Jesus aponta a desassistência à saúde da população como fator as irregularidades na gestão anterior do Poder Executivo Municipal. Segundo ele, a ex-prefeita Jady Viana (MDB) desviou verbas, causando prejuízo financeiro para a Prefeitura de Faro.

“Eu falo a realidade do município. Nós moramos no último município do Pará, fronteira com o Amazonas. Não temos UTI, mas temos apoio da Secretaria de Saúde e do prefeito. Quando precisa de exame de ultrassom, temos campanhas duas vezes ao mês. A jovem teve um pré-natal e foi acompanhada pelo médico. Éramos para termos muito mais recursos, recursos eu digo, de material hospitalar, mas devido o desvio que teve da gestora passada do município, Jady Viana, estamos passando por essa situação. O dinheiro destinado para combater a Covid-19 foi todo desviado, como também verbas da prefeitura e UBS fluvial. Se tivesse todo esse material, investido na Saúde, nós estaríamos muito bem, como Nhamundá, que é um espelho para nós. O ex-prefeito Neném deixou um município impecável para atual gestora, com investimentos na Saúde e na Educação. O nosso prefeito está fazendo o possível e o impossível para amenizar a situação e organizar o município, para que todos nós possamos ter uma vida saudável. Uma empresa foi contratada para suprir a necessidade, e recebeu verba do prefeito, mas não repassou para os médicos. Estamos procurando fazer o melhor. Infelizmente, essas fatalidades que aconteceram, como é um caso de uma jovem que morreu na unidade hospitalar, as pessoas se aproveitam e difamam a Saúde, levando para o lado da politicagem”, concluiu o diretor.

O que diz a ex-prefeita 

A ex-prefeita de Faro, Jady Viana (MDB) rebateu as acusações de Rian de Jesus, diretor do hospital, e considerou infundadas. A emedebista disse que atual gestão não fez nada e já teme seu retorno ao Poder Executivo Municipal.

“É o que vão falar sempre para justificar a má administração. Os adversários não têm competência e justificam seus erros em mim que estou apta e forte candidata a ganhar à próxima eleição. Eles têm de provar em documentos o que dizem. De tudo que me acusam, eu tenho respondido ao Ministério Público, e graças a Deus saí vitoriosa nos processos. Eles têm de resolver os problemas atuais, buscar meios e alternativas. A saúde de Faro precisa de competência, e isso, eles não sabem fazer. Quase três anos de mandato e só sabem dizer que eu sou culpada. O gestor que faz isso não pode governar. Pois fomos eleitos para solucionar os problemas”, pontuou.

O Diário Manauara não conseguiu contato com Edilza Farias, titular da Secretaria Municipal de Saúde Pública de Faro. A reportagem também fez contato com o presidente da Câmara dos Vereadores de Faro, Hildo Pereira Tavares, mas não obteve retorno.

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