A caminho de Manaus, Rafael revelou os detalhes do crime (Foto: Josemar Antunes/Cedida)
Manaus – O analista judiciário Rafael Fernandes Rodrigues, 31, chegou ao prédio da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS) na noite de sábado (16), por volta das 21h39, na Zona Leste de Manaus, para prestar depoimento sobre a morte da namorada. Visivelmente abalado emocionalmente, ele seguiu direto para uma sala reservada da especializada sem falar com os jornalistas, onde já era aguardado pelo advogado Euler Carneiro.
Rafael estava foragido há quatro dias e foi preso na tarde de sexta-feira (15), por volta das 16h, após ser denunciado para as Forças de Segurança roraimense. Sujo e com fome, Rafael estava escondido em uma cabana feita de bambu, no Morro do Quiabo, em Pacaraima, na fronteira entre Brasil e Venezuela.
Durante o cerco ao casebre, Rafael ainda tentou fugir para uma área de mata, mas acabou alcançado e preso por policiais civis e militares. Ele e os venezuelanos, de 24 e 17 anos, foram conduzidos para delegacias distintas.
Os irmãos venezuelanos que estavam dando cobertura à fuga de Rafael foram autuados por crime de favorecimento pessoal. O delegado Wesley Costa Oliveira, que atendeu o caso em Pacaraima, lavrou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) contra os venezuelanos. A dupla foi liberada após assinar o termo de compromisso de comparecer na Justiça.
Em depoimento no 2º Distrito Integrado de Polícia (DIP), em Boa Vista, Rafael confessou ter matado com três facadas a namorada Kimberly Karen Mota de Oliveira, 22, dentro do próprio apartamento na Avenida Joaquim Nabuco, no bairro Centro, na Zona Sul da capital amazonense.
Kimberly Karen conquistou o concurso de Miss Manicoré (Fotos: Reprodução)
O corpo da Miss Manicoré e finalista do Miss Amazonas em 2019 foi encontrado no início da madrugada de terça-feira (12), por volta de 0h05, depois da familiar denunciar o desaparecimento.
Após os trabalhos da polícia de Roraima, Rafael foi recambiado para Manaus, onde o inquérito foi instaurado. O paulista, então, servidor público do Tribunal Regional do Trabalho da 11ª Região – Amazonas e Roraima (TRT11) revelou que estava arrependido do crime.
Kimberly Karen foi morta com duas facadas no pescoço e uma no abdômen (Foto: Divulgação)
Durante coletiva de imprensa, o delegado Paulo Martins, responsável pelo caso, explicou que Rafael afirmou cooperar com a dinâmica do crime. Em depoimento prévio, o paulista declarou ao titular da DEHS que cometeu o assassinato depois de ler mensagens indesejadas no celular de Kimberly para outros homens. Ele namorava a jovem há dois meses.
“Depois de buscar Kimberly na casa de uma amiga, ele a levou para o seu apartamento. Enquanto a jovem estava no banheiro, Rafael conseguiu desbloquear o celular da namorada e leu mensagens amorosas para outros homens. Tomado pela raiva, ele pegou uma faca na cozinha e escondeu nas costas. Ao deita-se com Kimberly na cama, ele aproveitou a distração da jovem e desferiu o primeiro golpe no pescoço, que segundo o autor, foi bastante violento. Já quase falecida, Rafael aplicou mais dois golpes, sendo um tórax e outro no pescoço”, comentou o delegado Paulo Martins.
A autoridade policial informou, ainda, que Rafael tentou levar o corpo para o banheiro na tentativa de lavar, mas não conseguiu carregá-lo e deixou no chão. Ao perceber o que tinha feito, ele ligou para o pai, em São Paulo.
“Com a confirmação da morte de Kimberly, Rafael teve a ideia de lavar o corpo no banheiro, já que o local estava bastante sujo de sangue, mas ele acabou desistindo. Ele tinha pretensão de retirar o corpo do apartamento e ocultar em outro local da cidade. Desesperado, Rafael ligou para o pai, em São Paulo, e contou o que tinha feito à namorada. O pai, então, pediu que ele se entregasse à polícia, mas Rafael preferiu fugir em vez de ouvir o conselho”, concluiu o delegado Paulo Martins.
Fuga quase perfeita
O Audi/A5 pertencente a Rafael foi encontrado capotado na BR-174, em Caracaraí (Fotos: Divulgação)
Durante o trajeto de Boa Vista para Manaus, Rafael revelou que o objetivo era realmente fugir para a Venezuela, já que o país vizinho passa por crise socioeconômica e política, e descartou a informação inicial que ele pretendia escapar para a Espanha.
Desorientado, Rafael disse que acabou entrando na AM-010, que liga Manaus a Itacoatiara. Ao perceber que estava no trajeto errado, ele retornou e seguiu pela BR-174. Em um trecho da rodovia federal, Rafael pegou o celular de Kimberly e arremessou em local ignorado por ele.
Após passar pela barreira de fiscalização na Vila do Jundiá, no município de Rorainópolis, na divisa com o Amazonas, Rafael preencheu uma ficha de epimideologia em razão do coronavírus e seguiu com o plano de fuga.
Ao se aproximar do Parque Nacional do Viruá, na cidade de Caracaraí, ao Sul do estado de Roraima, Rafael perdeu o controle do carro de luxo, modelo Audi/A5, de cor branca, de placa PHH-7B39.
A suspeita é que Rafael não conhecia a região e que estivesse em alta velocidade. O veículo foi encontrado capotado e totalmente destruído na quarta-feira (13), pela Polícia Civil, em um trecho da BR-174.
Rafael declarou que pegou carona com um caminhoneiro até a cidade de Caracaraí, onde solicitou um táxi. Depois de sacar dinheiro em um caixa eletrônico na rodoviária, ele viajou até Boa Vista, onde continuou a fuga em outro táxi e seguiu para Paracaraima.
Venezuela
Após denúncia, Rafael foi encontrado escondido em uma cabana feita de bambu (Fotos: Divulgação)
Rafael tentou entrar três vezes na Venezuela pela cidade de Santa Elena de Uairén, capital do município de Gran Sabana, mas foi impedido em duas ocasiões pela Guarda Nacional.
Em uma terceira tentativa de entrar no país vizinho, Rafael foi reconhecido por rebeldes venezuelanos e ameaçado de morte. Para não ser morto, ele pagou R$ 1,5 e retornou para Pacaraima.
Após quatro dias fugindo da polícia, Rafael foi localizado e preso pela policia roraimense. Com ele, os policiais encontraram um papel com o número de telefine do pai.
Durante o cumprimento do mandado de prisão em aberto pela Justiça do Amazonas, Rafael foi informado que o genitor havia cometido suicídio na noite de quinta-feira (14), ao se jogar no trilho do metrô em São Paulo. Rafael ficou triste e culpou-se.
Defesa
Rafael foi interrogado com a presença de um advogado de defesa (Foto: Aguilar Abecassis)
Inicialmente dois advogados, sendo um do Sindicato e outro contratado pela própria mãe, que mora em São Paulo, onde realiza tratamento contra um câncer, foram enviados para atuar na defesa de Rafael. Mas o analista judiciário não aceitou e preferiu ter como defensor um advogado pessoal.
De acordo com o advogado Johnny Brito, o depoimento de Rafael foi acompanhado pela defesa e nenhum momento ele nega o crime, mas está muito arrependido do que fez.
“Esse foi o nosso primeiro contado com o réu confesso e agora vamos nos inteirar nos autos do processo para iniciar a defesa. A ficha demora cair, mas ele entende da responsabilidade e dos perigos que existe. Ele cooperou com autoridades policiais e está muito arrependido pela gravidade do crime, mas vai responder por isso”, declarou o advogado de defesa Johnny Brito.
Procedimentos
A delegada Zandra Ribeiro, adjunta da DEHS, informou que Rafael passará por mais um exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), sendo que a primeira aconteceu em Roraima.
Após os trâmites legais, Rafael será encaminhado, neste domingo (17), para o Centro de Recebimento e Triagem (CRT), no quilômetro 8 da BR-174, onde passará por audiência de custódia via vídeoconferência.
Acompanhe o momento que Rafael chega à DEHS:
https://www.facebook.com/diariomanauara/videos/245990063340424/?t=29
Coletiva de imprensa – parte 1
https://www.facebook.com/diariomanauara/videos/249861836217334/?t=2
Coletiva de imprensa – parte 2
https://www.facebook.com/diariomanauara/videos/959776877793617/?t=2
