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Cidades

Simpósio chama atenção para a prevenção ao suicídio

O defensor público aposentado Ricardo Trindade fala sobre sua experiência com a perda de sua de uma filha (Foto: Divulgação//DPE-AM)

Relatos de casos reais, a legislação brasileira que rege o atendimento à saúde mental, esclarecimentos de especialistas sobre sinais e sintomas que podem indicar que algo está errado, além das formas de valorização da vida, foram os temas das palestras do II Simpósio de Prevenção ao Suicídio do Amazonas, realizado nesta quarta-feira, dia 13 de setembro, no auditório Deputado Belarmino Lins da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (ALE-AM). O evento faz parte da campanha Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, lançada no último domingo com uma ação de conscientização no Largo de São Sebastião, Centro de Manaus.

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A campanha é encabeçada no Estado pela Associação Amazonense de Psiquiatria (AAP), em conjunto com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM), com o apoio da Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM).

O defensor público aposentado, Ricardo Trindade, foi o primeiro falar no evento, abordando o tema “Suicídio é uma realidade”, em que relatou sua experiência com a perda de uma filha adolescente e falou sobre iniciativas para valorização da vida. “A importância da Campanha do Setembro Amarelo é alertar para um perigo que, às vezes, pode ser velado, silencioso. É o que ocorreu na minha família, quando eu perdi uma filha, infelizmente aos 16 anos, que aparentemente não demonstrava, não se enquadrava dentro daquele perfil de uma pessoa que pudesse cometer um ato extremo desse”, disse.

Para o defensor público aposentado, que tem contribuído com a campanha desde 2016, é preciso quebrar o silêncio. “Após o episódio com minha filha, fui tomando conhecimento, como que montando peças de um quebra-cabeça, de que ela enfrentava algumas situações e que, se o assunto fosse falado, comentado, tratado, talvez esse fato pudesse ter sido evitado. Daí, hoje eu enxergar a importância da campanha do Setembro Amarelo, de que se fale do assunto para que essas pessoas que enfrentam esses problemas, saibam que existe solução, que existe a quem procurar, que há como tratar desse problema”, relatou Ricardo Trindade.

Tabu 

O defensor público aposentado considera que ainda existe um tabu muito grande a respeito do assunto na sociedade de um modo geral, porque o suicídio está relacionado diretamente à morte e a morte, segundo Trindade, é um assunto que causa espanto, com o qual as pessoas não querem se defrontar. “Mas o suicídio está aí. A cada 45 segundos uma pessoa se suicida no Brasil, a cada 37 segundos alguém se mata no mundo e é algo que a ONU (Organização das Nações Unidas) considera como um problema de saúde pública. Então, é importante que as pessoas se envolvam, que procurem cada vez divulgar mais, porque as pessoas estão se matando e muitas vezes por problemas que podem ser tratados. É importante que se diga que a pessoa que se suicida não está querendo morrer, ela está querendo se livrar de uma grande dor”, concluiu.

O presidente da AAP, psiquiatra Cléber Naief, ministrou a palestra “Assistência à saúde mental: aspectos éticos e legais”, dando esclarecimentos sobre a legislação voltada para o atendimento à saúde mental. Ele também falou a jornalistas sobre a importância de difundir as campanhas de prevenção.

“A Campanha do Setembro Amarelo tem por objetivo ensinar para as pessoas que a maior parte dos suicídios, 97%, poderiam ter sido evitados se tivéssemos tido uma abordagem do diagnóstico que levou a pessoa ao suicídio. Isso ocorre no mundo inteiro e as principais causas são depressão, responsável pelo maior número de casos, em segundo o alcoolismo, e, em terceiro, as drogas ilícitas. Depois vêm a esquizofrenia e outros problemas psiquiátricos. Mas a verdade, que nós precisamos falar, é que, se abordado e devidamente tratado, mais de 90% dos casos poderiam ter sido prevenidos”, afirmou Cléber Naief.

Sinais e sintomas

A psiquiatra Alessandra Pereira, diretora da AAP, falou sobre o tema “Quem, como e o porquê”, com abordagem sobre as principais causas de suicídio e alterações biológicas, alertando sobre sinais e sintomas que podem indicar que a pessoa está em risco. Ao apresentar as possíveis causas, a psiquiatra alertou sobre a possibilidade de prevenção e as abordagens de tratamento, uma vez que, segundo a AAP, grande parte das pessoas que se suicidam tem um diagnóstico psiquiátrico comprovado.

O psiquiatra e tesoureiro da AAP, Luiz Henrique da Silva, também ministrou palestra, com o tema “Abordagem e Espiritualidade”, abordando formas de incentivar a valorização da vida como contraponto a ideias suicidas.

Caminhada 

Como parte da programação do Setembro Amarelo também será realizada uma caminhada na Ponta Negra, zona oeste de Manaus, no dia 17 de setembro, com a participação de defensores públicos, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e estudantes, que distribuirão material informativo sobre prevenção ao suicídio. A caminhada terá início às 9h, partindo do Anfiteatro da Ponta Negra.

O ônibus de atendimento itinerante da Defensoria Pública estará nas imediações do anfiteatro como ponto de apoio à caminhada e também local de disseminação de informações sobre a campanha de prevenção ao suicídio. A DPE-AM mantém um núcleo voltado ao atendimento de demandas da área da saúde, que funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 14h, na unidade da rua 24 de Maio, 321, Centro, zona sul de Manaus. A Defensoria também oferece assistência psicossocial aos assistidos da instituição.

Com informações da assessoria