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Política

Arthur Neto pede para Bolsonaro parar de fazer ‘corpo mole’

"Sua decisão de recuar da concessão de autorizações para garimpo em áreas do Alto Rio Negro traz de volta a racionalidade sobre o tema" afirma Arthur

Arthur fez forte oposição ao presidente durante o fim de seu mandato após o vídeo de Bolsonaro (Foto: Divulgação)

Manaus (AM) – Em conversa com empresários do grupo Personalidades em Foco nesta segunda-feira (27), Moro respondeu a questionamentos sobre a Corte e falou em “movimento de anulação de condenações que gera descrédito, ruim para as instituições”.

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“Compartilho dessa crítica, com a ressalva de que sou institucional. O remédio para isso são mudanças e reformas que melhorem nossas instituições. O mero ataque e o desrespeito não é algo que constrói. É preciso pensar em reformas institucionais no STF. Transformá-lo num tribunal constitucional e pensar em mandato para os ministros”, disse o ex-juiz, reconhecido como parcial por votação da Corte.

Além disso, ele defendeu o fim da reeleição para presidente e do foro privilegiado. “A dificuldade é fazer a demanda por reformas essenciais vencer os interesses setoriais e corporativos”, analisou.

O ex-ministro ressaltou, porém, que não quer ser um “anjo vingador”. “Não vou ser um anjo vingador. O que queremos é fortalecer nossas instituições. Quando fui ministro, conversei muito, mas fui sabotado. Há espaço para discussões”, afirmou Moro.

Bastante criticado por sua falta de articulação, Moro tomou um “puxão de orelha” do ex-presidente da Nivea e da Phillips, Paulo Zottolo, por não estar falando “na língua do povo” durante a pré-campanha, como Lula (PT).

Sem saber o que dizer, o ex-juiz concordou, mas sugeriu um caminho inusitado: aplicar temas burocráticos à realidade prática. “A reforma administrativa tem sido focada na redução de custos. Mas se for pensar o que queremos de um governo: escolas de menor custo ou de qualidade?”, questionou.

“Uma decisão racional e que traz um mínimo de tranquilidade”, definiu Virgílio, mas que, segundo ele, está longe de ser a solução. Arthur pede o fim do garimpo, o envolvimento de técnicos e cientistas nas discussões futuras, reestruturação dos órgãos de fiscalização e uma mudança de 180 graus nos rumos da Funai.

No entanto, Bolsonaro é filho de garimpeiro e tem forte opinião formada sobre o assunto, levando em consideração que ainda na época em que serviu ao exército chegou a ser punido por garimpar em reservas protegidas. [recorte podcast Retrato Falado, Ep 02].

Bolsonaro e Arthur Neto

Vale ressaltar que enquanto Arthur Neto ainda era prefeito de Manaus foram compartilhadas em rede nacional uma reunião entre o presidente e seus ministros por determinação da justiça. Na reunião Bolsonaro é flagrado xingando o ex-prefeito pelas sua declarações em relação à Bolsonaro e suas decisões na pandemia.

“O que os caras querem é a nossa hemorroida! É a nossa liberdade! Isso é uma verdade. O que esses caras fizeram com o vírus – esse bosta desse governador de São Paulo, esse estrume do Rio de Janeiro, entre outros -, é exatamente isso. Aproveitaram o vírus. Está um bosta de um prefeito lá de Manaus agora, abrindo covas coletivas. Um bosta. Que quem não conhece a história dele, procure conhecer, que eu conheci dentro da Câmara, com ele do meu lado, né? E nós sabemos a ideologia dele e o que ele prega. E quem ele sempre foi. Está aproveitando agora, um clima desse, para levar o terror no Brasil”.

Arthur fez forte oposição ao presidente durante o fim de seu mandato após o vídeo de Bolsonaro.

Leia a íntegra da carta:

Caro Presidente,
Sua decisão de recuar da concessão de autorizações para garimpo em áreas do Alto Rio Negro traz de volta a racionalidade sobre o tema. Ouvir os órgãos competentes, como a Agência Nacional de Mineração (ANM), Fundação Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), nos dá um mínimo de tranquilidade para continuar discutindo, à luz da ciência, das questões ambientais e das necessidades reais de nossa população.

Mas, Senhor Presidente, não se pode ficar apenas na suspensão das autorizações. O Brasil exige passos mais largos e definitivos: extinguir o garimpo, atividade poluidora, sonegadora de impostos, recheada de crimes contra o meio ambiente e as pessoas, incluindo o ataque aos indígenas e a violência instaurada entre os próprios garimpeiros.

É necessário envolver técnicos e cientistas no ICMBio, devolver a capacidade fiscalizadora do Ibama, promover mudança de 180 graus na Funai, que hoje defende os garimpeiros e não as etnias indígenas, mudar radicalmente o rumo do governo, em relação ao desmatamento ilegal e às queimadas.

É necessário também, Presidente, resgatar a verdade e enfrentar honestamente o aquecimento global. Hoje, seu governo joga contra a floresta em pé. Penso que não compreende que a Amazônia é a região mais estratégica do Brasil, uma das mais estratégicas do mundo e a última fronteira possível para construirmos a prosperidade dos brasileiros e dos parceiros que o destino venha a nos apontar.

Estou convicto de que é necessário fazer todos os esforços para se obter recursos para pesquisas, de modo a colocarmos, urgentemente, a biodiversidade em ponto de virar biotecnologia. Alterar completamente o aspecto nocivo do Ministério do Meio Ambiente. Lá não é lugar para os Ricardos Salles et caterva, todos cúmplices dos desmatadores ilegais.

O senhor, Presidente, e todos os que o seguem, precisam entender a simbiose existente entre a floresta e os rios amazônicos: se um sucumbir, o outro seguirá junto. Precisam entender que a água doce, potável e de fácil extração, escasseia no mundo e essa água está na Amazônia, tanto nas nossas bacias hidrográficas quanto nos nossos aquíferos, e pode chegar a virar, brevemente, valioso produto de exportação.

Vossa Excelência está cercado de militares, especialistas em estratégias, logo, não há desculpas para não perceber que a destruição da floresta e dos formidáveis rios levará, inevitavelmente, a uma intervenção militar estrangeira, obviamente apoiada pela ONU e comandada pelos Estados Unidos. Não deixe chegar a esse ponto, Presidente Jair Messias Bolsonaro. O Brasil não o elegeu para que seus erros separem a Amazônia do território brasileiro, empobrecendo e mediocrizando nossa pátria.

Pare de errar tanto e fazer tanto mal ao seu povo. Defenda seu nome, sua reputação, sua respeitabilidade. Pense em deixar um legado para os brasileiros. Pense que sua opção é ser respeitado pela história ou se marcar como, talvez, o mais negativo presidente deste país. Aprenda a respeitar quem o critica com base e ciência. Vire as costas para os bajuladores e aproveitadores. Vire sua face de frente para os brasileiros.

Respeitosamente.