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Familiares suspeitam que mortos na Cidade de Deus foram executados

Parentes dos sete mortos neste fim de semana na Cidade de Deus vão ao IML reconhecer os corpos - foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Parentes dos sete mortos neste fim de semana na Cidade de Deus vão ao IML reconhecer os corpos – foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Familiares dos sete homens encontrados mortos na Cidade de Deus no último fim de semana foram nesta segunda-feira (21) ao Instituto Médico-Legal (IML) liberar os corpos e contaram a jornalistas como os encontraram na manhã de domingo. Para os moradores, seus familiares foram executados por policiais militares.

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“Encontrei meu esposo com a perna decepada, com quatro facadas, dois tiros na nuca, e de costas”, conta Viviane Gonçalves, de 32 anos, que era casada e tinha uma filha com Rogério Alberto de Carvalho Júnior, 34 anos, que foi um dos encontrados sem vida. “Se eles estavam errados, que fossem presos, mas que não esculachassem do jeito que eles fizeram. O que eles fizeram foi uma chacina”.

A Cidade de Deus teve confrontos entre policiais e criminosos no fim de semana. Quatro PMs morreram com a queda de um helicóptero, cuja causa ainda está sendo apurada. Na manhã de hoje, mais tiroteios fizeram com que escolas e creches não abrissem pela manhã.

Viviane conta que soube por vizinhos que seu marido estava entre os baleados na noite de sábado, mas que policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) não deixaram que eles fossem até o local onde estariam os corpos.

O pastor da Assembleia de Deus Leonardo Martins da Silva, de 45 anos, encontrou o filho, Leonardo Martins da Silva Júnior, de 22 anos, entre os mortos na localidade conhecida como Brejo, em uma área alagada. Ele repete o relato de que havia homens de bruço, com tiros na nuca e em outras partes do corpo, além de facadas. “Eles foram executados”, acredita ele, que lamenta a morte do filho. “Ele trabalhava comigo, mas também ficava no meio dos garotos lá [tráfico]”.

Leonardo conta que os moradores só conseguiram ter acesso aos corpos depois que pediram a outros policiais militares que estavam fora da favela, e eles chamaram o transporte funerário e a Divisão de Homicídios. Ao ver a imprensa entrando na Cidade de Deus no domingo, Leonardo conta que pediu para que fotografassem seu filho morto. “Deixei tirar foto porque o mundo tem que ver isso”.

Raíssa da Silva Monteiro, de 21 anos, acredita que quando os moradores tiveram acesso bloqueado seus familiares ainda podiam estar vivos. Eles chegaram ao local na noite de sábado, mas só conseguiram entrar no fim da manhã de domingo. “Acho que íamos encontrar eles com vida. Quando chegamos lá, foi um estrago o que a gente viu”, diz ela, que viu a irmã trazer da lama o corpo de seu irmão, Renan da Silva Monteiro, de 20 anos.

A esteticista Gisele Beija afirma que seu sobrinho, de 17 anos, e outros vizinhos observavam a movimentação na favela quando os tiroteios se aproximaram e eles correram para dentro de uma mata. “A partir daí ninguém sabe o que aconteceu. A gente ouviu muito tiro”, diz ela, que acrescenta: “Pelo modo que eles foram encontrados, eles se entregaram. Foi execução, está claro”.

Investigações

As circunstâncias das mortes estão sendo investigadas pela Polícia Civil, que está realizando diligências para esclarecer os fatos. Procurada pela Agência Brasil, a Polícia Militar não comentou o caso e disse que a Civil é a responsável pelas investigações, por meio da Divisão de Homicídios.

A PM realiza hoje operações em outras comunidades onde há atuação da mesma facção que controla o tráfico na Cidade de Deus, como o Morro da Barão, em Jacarepaguá, e as favelas de Parque União e Nova Holanda, no Complexo da Maré.

Na tarde de ontem, a Anistia Internacional emitiu uma nota pedindo que a política de segurança pública seja repensada pelas autoridades do Rio de Janeiro. A entidade defendeu que as operações policiais respeitem os direitos humanos e garantam a segurança de todos.

Fonte: Agência Brasil