×

Polícia

Chefe de inteligência da Seai é preso em operação da PF e MPE

O delegado Samir Garzedim Freire é homem de confiança do governador Wilson Lima e subordinado ao titular da SSP-AM, o coronel Louismar Bonates

Samir Freire sendo conduzido para o MPE-AM (Foto: Divulgação)

Manaus (AM) – Agentes públicos ligados a órgão de cúpula da Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), investigados por roubo de ouro, mediante graves ameaças dirigidas aos transportadores do metal precioso, foram presos na manhã desta sexta-feira (9), durante a operação “Garimpo Urbano” deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), com apoio da Polícia Federal.

Publicidade

Entre os presos está o delegado Samir Garzedim Freire, titular da Secretaria-Executiva-Adjunta de Inteligência (Seai), acusado de utilizar a estrutura de sua pasta para roubar ouro extraído de garimpos clandestinos. Ele foi preso pela Polícia Federal em sua casa no condomínio Ponta Negra 2, na Zona Oeste de Manaus.

Além do delegado, foram presos Adriano José Frizo, André Silva da Costa e Jorday Bello Vieira, ambos investigadores da Polícia Civil do Amazonas. Também são alvos da operação Daniel Piccolotto Carvalho, Diego Alves Piccolotto de Carvalho, Jociel Andrade de Freitas, Raimundo José Cruz Júnior, e Wagner Flexa Saita.

Jorday Bello Vieira, investigador da PC-AM (Foto: Divulgação)

Visando coibir a ação de agentes públicos ligados a órgão de cúpula da SSP-AM, a operação cumpriu quatro madados de prisão temporária e dez mandados de busca e apreensão. As ações aconteceram em Manaus, no interior do Amazonas e no estado do Pará.

Segundo as investigações da PF, a quadrilha liderada por Samir Freire monitorava e abordava transportadores de ouro ilegal “mediante graves ameaças, uso de estrutura, pessoal e expertise da Seai”.

Nota

Em nota, o Governo do Amazonas informa que os agentes públicos estaduais alvos da operação deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco), na manhã desta sexta-feira (9), serão afastados dos cargos que ocupam e exonerados das funções.

O Governo do Estado ressalta que condutas ilícitas de qualquer servidor público estadual não são toleradas e que vai colaborar com as investigações, prestando todas as informações necessárias aos órgãos de fiscalização e à Justiça.

Histórico de Samir Freire

Samir Freire, delgado da Polícia Civil (Foto: Divulgação)

O delegado Samir Freire é subordinado ao secretário de Segurança Pública do Amazonas, o coronel da PM Louismar Bonates, e principal homem de confiança do governador Wilson Lima (PSC). A autoridade policial foi nomeado em 21 de agosto de 2019 para ser titular da Seai, vinculado à SSP-AM.

Samir Freire ingressou na Polícia Civil por meio de concurso público, em 2009, é pós-graduado em Direito Público, Direito Penal e Segurança Pública. Antes, ele havia chefiado a Secretaria Executiva Adjunta de Operações (Seaop).

Samir Freire atuou na 36ª Delegacia Interativa de Polícia (​DIP) de Rio Preto da Eva (a 57 quilômetros distante da capital). Em Manaus, ele assumiu o Departamento de Repressão ao Crime Organizado (DRCO) e foi delegado coordenador do Grupo Força Especial de Resgate e Assalto (Fera).

Depois retornou ao DRCO e, após isso, atuou como adjunto da Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS), além de atuar como plantonista no 9º Distrito Integrado de Polícia (DIP) e 10º DIP.

Samir Freire ainda foi adjunto da Delegacia Especializada em Prevenção e Repressão a Entorpecentes (Depre), diretor do Departamento de Investigação sobre Narcóticos (Denarc) e titular da Delegacia Especializada em Crimes contra o Meio Ambiente (Dema).

Em 2018, Samir Freire foi titular da Delegacia Especializada em Capturas e Polinter (DECP) e adjunto da Delegacia Especializada em Roubos, Furtos e Defraudações (DERFD), onde permaneceu até o final dezembro de 2018.

Após os ataques incendiários a ônibus e a prédios públicos em Manaus e cidades do interior do Amazonas, atribuídos por membros do Comando Vermelho (CV), um “salve” da facção criminosa acusou o Louismar Bonates, titular da SSP-AM, de usar a estrutura da cúpula da segurança pública para roubar drogas e extorquir dinheiro de narcotraficantes.

Em nota, Bonates afirmou ter determinado a abertura de um processo investigativo junto à Corregedoria sobre o envolvimento dos policiais civis presos na operação “Garimpo Urbano” da PF e MPE, e declarou cooperar com as investigações.

Avalanche de prisões no Governo Wilson Lima

Das 41 promessas feitas durante sua campanha eleitoral, o governador Wilson Lima cumpriu 18 após dois anos e meio de mandato. Na segurança pública, a autoridade máxima do poder executivo defendeu liberação de recursos federais para a Segurança Pública, e inaugurou à Delegacia Especializada no Combate à Corrupção da Polícia Civil.

No entanto, Lima não executou o compromisso de fazer concursos públicos anuais para forças de segurança e implantar sistema de monitoramento inteligente na capital, além de acordo de cooperação técnica com outros estados para a troca de tecnologias e Implementar programa de segurança comunitária.

Essas duas promessas feitas na campanha foram tratadas como prioridade no seu primeiro ano de governo e, foi além, destacou para 2020, a meta de intensificar o combate à lavagem de dinheiro e à corrupção.

Em contrapartida, é bom lembrar que o número de prisões na cúpula da Segurança Pública só aumenta no governo de crises e má gestão, somados aos supostos desvios de R$ 23 milhões e superfaturamentos do Governo na pandemia.

A prisão dos policiais civis é mais um ponto negativo das propostas de Governo. Conforme o procedimento administrativo do MPE-AM, a Polícia Militar protagonizou três chacinas no Amazonas, as mais violentas.

Na madrugada do dia 30 de outubro de 2019, um confronto entre policiais militares e traficantes, terminou com 17 membros da facção criminosa Família do Norte (FDN) mortos. O fato aconteceu no bairro Crespo, na Zona Sul de Manaus. A investigação foi realizada pela Promotoria Especializada no Controle Externo da Atividade Policial (Proceap).

À época, SSP-AM informou que 50 integrantes da FDN chegaram no bairro Crespo e acessaram pelo beco JB Silva, na rua Magalhães Barata. Segundo a cúpula da Segurança Pública, os faccionados tinham como objetivo tomar as bocas de fumo, dominadas pelos traficantes Felipe Oliveira da Costa, 24, conhecido como “Coreano”, preso pela das Rondas Ostensivas Cândido Mariano (Rocam) no dia 22 de maio daquele ano, e Josué Moraes de Almeida, 31, ambos integrantes do CV e ex-FDN.

De acordo com o relatório, diferentemente apresentado pelos policiais, de que as mortes foram resultados de uma intervenção policial, o MPE-AM concluiu que os policiais tiveram a intenão de matar. O documento foi assinado pelo promotor de Justiça João Gaspar, da 61ª Proceap.

Outra baixa ocorreu em agosto no rio Abacaxis, nas proximidades do município de Nova Olinda do Norte (a 135 quilômetros de Manaus). Na ocasião, cinco pessoas foram mortas e três ficaram desaparecidas, durante uma suposta reação pelo assassinato de dois policiais militares. Diante da truculência, A Justiça determinou ao governo fedeal proteção aos indígenas e ribeirinhos da região, então, ameaçados por PMs.

A terceira chacina foi registrada entre os dias 12 e 13 de junho deste ano, em Tabatinga (a 1.208 quilômetros da capital amazonense). Em represália ao assassinato do sargento Michel Flores Cruz, 36, da Polícia Militar, sete jovens do município foram torturados e executados. Três homens foram encontrados no lixão da cidade.

Gaeco

Com a finalidade identificar, prevenir e reprimir o crime organizado e as atividades ilícitas especializadas no Estado do Amazonas, em dois meses, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado, do MPE, já realizou duas operações contra policiais acusados de molestar criminosos, prática batizada de “arrocho”.

No início de maio deste ano, o tenente-coronel da PM Glaubo Rubens de Alencar, o investigador da Polícia Civil Acrísio Drumond de Carvalho e o ex-PM Wanderlan Fernandes de Oliveira, foram presos pelo Gaeco. Eles roubaram toneladas de maconha de traficantes e acabaram denunciados por tráfico de drogas, roubo e organização criminosa.